Rosário (MA)
Com uma população de aproximadamente 40 mil habitantes, o município de Rosário,
a 70 quilômetros da capital São Luís, é mais uma das cidades brasileiras que
sofrem com a falta de profissionais de saúde, principalmente médicos, e de
estrutura para garantir a oferta de serviços nos moldes do que prevê o Sistema
Único de Saúde (SUS).
O estado do Maranhão, segundo dados do Ministério da
Saúde, apresenta a mais baixa proporção de médicos por mil habitantes no país,
correspondendo a um terço da média nacional. Enquanto a média nacional é 1,8
médico a cada mil habitantes, no Maranhão a proporção é 0,58.
No único
hospital do município, a Unidade Mista de Saúde, a maioria das salas está
desativada. Menos de 10% da estrutura física são usados.
Com corredores vazios,
portas de madeira corroídas, paredes descascadas e piso quebrado, o cenário é
de abandono.
Em um dos quartos, onde uma mulher de 79 anos estava em observação
após uma crise de hipertensão, parede e teto apresentavam sinais de mofo. Com
ventilação apenas por meio das janelas, a filha, que pediu para não ser
identificada, tentava amenizar o calor abanando a lavradora com um papel.
O
incômodo era agravado pela ação de uma funcionária do hospital que higienizava
o quarto jogando desinfetante no chão, mesmo com a presença das duas.
"Ela passou
mal e eu corri para cá com ela, mas a situação é muito ruim. Deram a medicação
e agora estamos esperando, com esse calor todo. Mas não tem o que fazer, tem
que esperar", disse a jovem.
De acordo com
funcionários do hospital, os equipamentos da unidade também estão sucateados. O
auxiliar de enfermagem Francisco de Assis, que ocupava o cargo de coordenador
administrativo até o mês passado, disse, por exemplo, que a autoclave, que
serve para esterilizar roupas e materiais, tem pelo menos 30 anos de uso, está
obsoleta e pode comprometer a total eliminação de micro-organismos.
O hospital, que
atende casos de urgência e emergência, também não tem desfibrilador -
equipamento usado em casos de parada cardiorrespiratória com objetivo de
restabelecer ou reorganizar o ritmo cardíaco - e, segundo o médico plantonista
Lúcio Fábio Guimarães, o aparelho de raio X está quebrado há três anos. Além
disso, o centro cirúrgico e a sala de parto estão desativados por falta de condições
de funcionamento.
"A
infraestrutura aqui é precária, isso é notório. Uma vez comentei com um
enfermeiro que a população reclamaria da falta do raio X e ele me respondeu
que, infelizmente, as pessoas já estão acostumadas a não ter [equipamentos
funcionando]", disse o médico.
Com dores no pé
há três semanas e sem conseguir fazer o raio X na rede pública, a pescadora
Maria de Jesus Souza Carvalho, de 50 anos, foi a uma clínica particular no
município para saber o preço do exame. Segundo ela, para pagar os R$ 50
cobrados no local será preciso pedir a ajuda de parentes e amigos.
Depois de ser
atendida no hospital de Rosário, ela foi ao município vizinho de Bacabeira para
tentar uma consulta com o ortopedista e fazer o exame. No local, foi informada
de que teria que voltar alguns dias depois para marcar a consulta com o
especialista que só atende no município uma vez por semana.
"Eu fui ao
médico e ele me mandou consultar com um ortopedista. Fui em outra cidade,
porque me disseram que lá tinha ortopedista e ele fazia o exame na hora, mas o
médico não estava lá. Então voltei e consegui marcar com o ortopedista aqui em
Rosário, mas só para daqui a duas semanas. Como estou com muitas dores no pé,
vou tentar fazer aqui na particular", contou ela, que teve que parar de
trabalhar desde que o pé começou a inchar.
"Não dá para trabalhar porque
quase não posso andar, não posso colocar o pé no chão", lamentou a
pescadora.
A secretária de
Saúde de Rosário, Mauricea Rodrigues Lopes, reconhece que o setor é o
"maior gargalo" da administração municipal. Segundo ela, os recursos
que o município dispõe são insuficientes para reformar a unidade que já foi
federal, tendo sido repassada à prefeitura há cerca de 20 anos.
"Nós
fazemos apenas reformas pontuais, mas seria necessário investir aproximadamente
R$ 1 mihão [para recuperar o hospital] e o município não tem verba para isso.
Esse hospital é um elefante branco", desabafou a secretária de Saúde de
Rosário.
Mauricea Lopes
explicou que há muitos casos que chegam à unidade e precisam ser encaminhados
ao hospital estadual no município vizinho de Morros, a 30 quilômetros de
Rosário, que "nem sempre tem leitos disponíveis", ou a unidades da
capital São Luís, a 60 quilômetros. Em relação ao raio X, ela informou que a prefeitura
já comprou um novo aparelho que deve chegar nas próximas semanas.
Ainda segundo
Mauricea Rodrigues Lopes, o Ministério da Saúde repassou ao município em julho
R$ 400 mil para construir unidades básicas de Saúde (UBS) e reduzir os gastos
da prefeitura com o aluguel de cinco imóveis onde funcionam algumas das atuais
unidades. Segundo ela, as 15 equipes do Programa Saúde da Família, existentes
em Rosário, atuam em cinco imóveis próprios e dez alugados.
Ela acrescentou
que a pasta também repassou R$ 1 milhão para a construção de um Centro de
Atenção Psicossocial (Caps) com o objetivo de atender usuários de álcool e
drogas. A unidade terá 20 leitos para internação e funcionará 24 horas,
destacou. O ministério também repassará R$ 78 mil mensais para manter o centro.
Irlahi Linhares Moraes, prefeita de Rosário MA |
Com o Índice de
Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) considerado médio, segundo o Atlas do
Desenvolvimento Humano Brasil 2013, Rosário aparece atrás de 3.447 no ranking,
que leva em consideração critérios como longevidade, renda e educação. O IDHM
foi divulgado na semana passada no Atlas do Desenvolvimento Humano Brasil 2013,
elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).
Por: Thais Leitão
Agência Brasil