O Ministério Público Federal (MPF) denunciou fazendeiros, no
Maranhão, por submeter pessoas a trabalho semelhante a escravo. Após
fiscalização feita no município de Santa Luzia – a 294 km da capital, São Luís
–,dezessete pessoas foram resgatadas da
fazenda Santo Antônio, onde eram submetidas a precárias
condições de trabalho.
A denúncia é embasada por relatório de fiscalização
feita, no município, pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), que constatou
a prática de trabalho em condição análoga a escravo na fazenda – saiba mais sobre o combate ao "trabalho escravo" .
Na denúncia, o MPF pede a condenação de José Firmino da Costa Neto e Rivelino
Gomes da Costa, respectivamente, proprietário e administrador da fazenda, pela
conduta criminosa tipificada no artigo nº 149 do Código Penal.
Para o MPF, as inúmeras
irregularidades, nas quais os trabalhadores foram encontrados – como ausência
de água potável e instalação sanitária, alimentação e alojamento inapropriados
para atender as necessidades básicas de uma pessoa –, afrontam os princípios da
dignidade humana estabelecidos pela Constituição. Além das irregularidades, os
trabalhadores tinham, frequentemente, seus salários retidos e eram induzidos a
comprar itens, como produtos de higiene pessoal, lanternas, medicamentos e,
até, equipamentos que necessitavam para o trabalho, em uma espécie de armazém
mantido pelos empregadores. Diariamente, os trabalhadores eram levados para os
locais de trabalho em transporte clandestino, conduzido por motorista sem
habilitação.
De acordo com o procurador da
República, Juraci Guimarães Júnior, existem, atualmente, 46 denúncias contra
empregadores em curso no Estado, sendo 11 com sentenças proferidas e 26
inquéritos policiais em andamento. "As fiscalizações são feitas tanto pelo
Grupo Móvel de Combate ao Trabalho Escravo, do MTE, que é um grupo nacional,
quanto pelo grupo móvel local da Delegacia Regional do Trabalho, que, também,
tem a composição do Ministério Público do Trabalho, da Polícia Rodoviária
Federal e da Polícia Federal, que faz fiscalizações a partir de denúncias que
chegam para esses órgãos", afirmou à reportagem do Imirante nesta
terça-feira (26).
Ainda segundo o procurador, a
situação de trabalho análoga à escravidão se caracteriza por diversos fatores
e, nem sempre, está restrita à zona rural das cidades. "Muitas vezes, eles
prometem formas de remuneração e situações de trabalhos muito boas, mas quando
os trabalhadores chegam ao local, se deparam com o acesso difícil, que não há
transporte regular, ou seja, a situação que se denomina análoga ao trabalho
escravo, com jornada de trabalho excessiva, mínimas condições de serviço e,
muitas vezes, com a própria restrição da liberdade objetivamente falando, com
armas, para que eles prestem esse serviço", explica.
Reincidência
Em 2011, o Grupo Especial de
Fiscalização Móvel (GEFM), do MTE, já havia encontrado, na mesma fazenda, 24
empregados, entre eles dois adolescentes e duas mulheres, submetidos a
trabalhos com condições de total ilegalidade, como ausência de registros na
Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS), além de salários e jornada de
trabalho em desacordo com a legislação.
Para evitar a reincidência, tanto
dos empregadores quanto dos trabalhadores, são necessárias políticas públicas
que ofereçam melhores oportunidades no Estado, maior exportador de
trabalhadores em situação análoga a de escravo. "A ação penal é a ponta
do iceberg. A gente tem uma comissão estadual, liderada pela
Secretaria de Estado de Direitos Humanos, em que participam o Ministério
Público Federal, Ministério Público Estadual, Ministério Público do Trabalho e
OAB, em que se discute políticas públicas para o combate ao 'trabalho escravo',
porque é importante ter políticas públicas, principalmente de emprego, para
essas pessoas. Não é só uma característica do interior do Estado",
finaliza.
Denúncia
A denúncia
contra os empregadores, geralmente, é feita por um trabalhador que conseguiu se
libertar da condição, mas, também, pode ser feita pela sociedade civil, aos
sindicatos de trabalhadores rurais, Comissão Pastoral da Terra (CPT) ou, ainda,
ao MPF. Outras informações podem ser obtidas pelo telefone (98)
3213-7100 ou pela página eletrônica do MPF na internet.
Fonte: imirante.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário